sábado, 2 de janeiro de 2010

Meninas no Pátio

Manhã de sol.
No pátio quadrado,
Mulheres meninas bronzeiam seus corpos,
Ajeitam seus cabelos, unhas, sobrancelhas,
Como a esperar por uma grande festa,
Como a se preparar por uma grande festa.
Umas poucas trabalham,
Muitas conversam.
Outras escutam o rádio,
Entretidas, sempre, na mesma estação,
Sempre no mesmo programa: policial.
Notícias de roubos, assaltos,
Estupros, mortes, prisões:
Notícias do “mundão”.
Do “mundão” além das grades,
Do muro, do pátio,
Do outro lado do portão.
Do mundo que ficou para trás,
Que nem imagina como é a vida aqui,
Neste espaço limitado,
Que mais parece uma colônia de férias,
Não uma colônia penal.
Algumas (poucas) estão aqui esquecidas,
Abandonadas por suas famílias, seus amigos.
Outras, nunca se sentiram tão amadas,
Nunca tiveram tanto o carinho da família,
Do marido, dos filhos ou da namorada.
Muitas, a grande maioria, estão por amor.
Pelo amor de terem se unido ao homem errado
E, por ele, tudo fazer:
Assaltar, matar, seqüestrar, traficar, roubar.
E, quando não é pelo homem, pelo amor a este,
É pelo ódio, pela traição, pelo abandono deste,
Que as deixou sozinhas,
Com filhos para criar.
Salvo aquele que, tal como ela,
Também está preso,
Numa realidade
Bem mais difícil de enfrentar.
E os filhos, muitos deles,
Ficam ao “Deus dará”,
Sem o lugar certo,
O pão, o amor,
E a escola para estudar.
Estão nas ruas,
Soltos à própria sorte,
Aprendendo o caminho dos pais
A trilhar.
“Buscando” a mesma sorte
De um dia,
Num lugar como este,
Fatalmente, infelizmente,
Vir, também, a habitar.

Geralda Sales

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