sexta-feira, 3 de abril de 2015

Jesus é preso, ligado e conduzido a Jerusalém

O Redentor, sabendo que Judas se aproximava acompanhado dos judeus e dos soldados, levanta-se, banhado ainda no suor da agonia mortal. Com o rosto pálido, mas com o coração todo abrasado em amor, vai-lhes ao encontro para lhes entregar nas mãos, e vendo-os chegados perto, diz: “A quem buscais?”.
– Afigura-te, minha alma, que neste momento Jesus te pergunta também: Dize-me, a quem buscais? Ah, meu Senhor, a quem poderei buscar senão a Vós, que descestes do Céu à Terra para me buscar e não me ver perdido?
“Eles prenderam Jesus e o ligaram”. Ó céus, um Deus ligado! Que diríamos se víssemos um rei preso e ligado pelos seus servos? E que dizemos agora vendo um Deus entregue às mãos da gentalha?
Ó cordas bem-aventuradas! Vós que ligastes o meu Redentor, Ah! Ligai-me a Ele, mas ligai-me de tal modo que nunca mais me possa separar de seu amor.
– Considera, minha alma, como um lhe liga as mãos, outro o injuria, mais outro o empurra, e o Cordeiro inocente se deixa ligar e empurrar quanto quiserem. Não procura fugir das mãos deles, não chama por auxílio, não se queixa de tantas injúrias, nem mesmo pergunta porque é tratado assim.
Eis, pois, realizada a profecia de Isaías: “Foi oferecido, porque ele mesmo quis, e não abriu a sua boca; ele será levado como uma ovelha ao matadouro”.
Mas onde é que se acham seus discípulos? Que fazem? Já não podendo livrá-lo das mãos de seus inimigos, ao menos que o tivessem acompanhado para defenderem a inocência de Jesus perante os juízes, ou sequer para o consolarem com a sua presença!
Mas não; o Evangelho diz: “Então os seus discípulos, desamparando-o, fugiram todos”. Qual não devia se a tristeza de Jesus, vendo que até os seus discípulos queridos fugiam e o desamparavam?
Mas, ó céus, então o Senhor viu ao mesmo tempo todas aquelas almas que, sendo por ele mais favorecidas, haviam de abandoná-lo depois e de lhe virar as costas.
Antes tratado como Messias, agora como criminoso…
Ligado como um malfeitor, o nosso Salvador entra em Jerusalém, onde poucos dias antes fora aclamado com tantas honras e louvores.
Passa a desoras pelas ruas, entre lanternas e tochas, e tão grande é o alarido e tumulto, que todos deviam pensar que se levava qualquer grande criminoso.
A gente chega à janela e pergunta: Quem é que foi preso? E responderam-lhe: Jesus, o nazareno, que foi desmascarado como sendo um sedutor, um impostor, um falso profeta e réu de morte.
– Quais não deviam ser então em todo o povo os sentimentos de desprezo e indignação, quando viram Jesus Cristo, acolhido primeiro como o Messias, preso por ordem dos juízes, como impostor!
Ah! Como se trocou então a veneração em ódio, como se arrependeu cada um de tê-lo honrado, envergonhando-se de ter honrado um malfeitor, como se fosse o Messias!
– Eis, pois, a que estado se reduziu o Filho de Deus, para nos mostrar o nada das honras e dos aplausos do mundo!
E como é que eu, apesar de ver um Deus tão humilhado e injuriado por meu amor, como é que eu hei de viver tão amante dos bens fugazes da terra, ambicionar as honras, as dignidades, as preeminências, e não sofrer o mínimo de desprezo? Ai de mim, pecador e soberbo!
Donde, ó meu Senhor, me pode vir tamanho orgulho, depois que mereci tantas vezes o inferno? Meu Jesus, suplico-Vos pelos merecimentos dos desprezos que sofrestes, dai-me a graça de Vos imitar.
Proponho com o vosso auxílio reprimir de hoje em diante todo o ressentimento e receber com paciência, alegria e contentamento todas as humilhações, todas as injúrias e todas as afrontas que me possam ser feitas.
Proponho, além disto, para vos agradar, fazer todo o bem possível a quem me despreza; ao menos falarei sempre bem dele e rogarei por ele.
Vós, ó meu Senhor, pelas dores de Maria Santíssima, fortalecei estes meus propósitos e dai-me a graça de Vos ser fiel.