domingo, 20 de março de 2011

Celular virou arma perigosa

O sequestro do empresário Ivan Costa Melo Filho fez estourar um verdadeiro problema de segurança pública que vem de dentro dos presídios, não só em Pernambuco. O celular passou a ser a principal arma dos bandidos que cumprem pena. Os chefes de quadrilhas continuam a dar ordens via telefone. Foi assim na escolha de Ivan Filho como alvo do sequestro e se repete com um número indefinido de cidadãos que sofrem extorsão dentro das próprias casas. Todos os dias. Sem estatísticas oficiais. A Secretaria Executiva de Ressocialização do estado (Seres) admite as falhas de segurança, porém ainda engatinha em projetos que reduzam a entrada irregular dos aparelhos e, principalmente, o bloqueio das ligações feitas pelos presidiários. No cativeiro do empresário, por exemplo, foi encontrada uma relação com números de telefones de possíveis vítimas.
De acordo com o superintendente de Segurança Penitenciária da Seres, coronel Francisco Duarte, o principal problema em coibira entrada de objetos e drogas nos presídios está na vistoria dos visitantes. ´Familiares mulheres dos detentos são as principais responsáveis por levar objetos. Fazemos a vistoria, mas para praticá-la de forma íntima, precisamos de ordem judicial. Essa, só pedimos quando temos alguma iminência. Imagine termos que pedir uma ordem judicial para todos os visitantes? É impossível`, disse.

Só na Barreto Campelo, por exemplo, onde está o presidiário Olívio Oliveira, que comandou o sequestro do empresário, são 1.818 presos amontoados em um local com capacidade para 1.140 pessoas. Em um domingo, cerca de três pessoas, em média, visitam cada detento. Portanto, aproximadamente, cinco mil pessoas vão à penitenciária e são revistadas por apenas 12 agentes designados para a missão. A conta não fecha. ´Infelizmente, estão sempre inventando uma maneira nova de passar pela fiscalização. Não descartamos que haja conivência`, falou o diretor da Barreto Campelo, coronel Alexandre Guarines.

No Aníbal Bruno, a maior penitenciária do estado, também está a maior superlotação de Pernambuco. Atualmente, 4.234 presos onde cabem 1.448. Lá, segundo o coronel Francisco Duarte, além dos familiares, outra dificuldade para conter a entrada de celulares vem das ruas. ´Como as casas ficam próximas, numa área urbana, muitos bandidos jogam sacos por cima do muro`, revelou Francisco Duarte. Segundo ele, há uma patrulha de moto no entorno do presídio para conter o problema.

Segurança

As 18 penitenciárias do estado são equipadas com esteiras de Raio-X, que averiguam malas e bolsas trazidas pelos visitantes, além de bastões de detecção de objetos metálicos. Aparentemente, tudo em vão. De acordo com a Seres, nos últimos quatro anos, já foram apreendidos mais de 600 celulares nos presídios locais. Mas o número é maior.

Em 2009, o Departamento Penitenciário (Depen), órgão do Ministério da Justiça, iria comprar 30 body scans (equipamentos de escâner de corpo humano) e Pernambuco seria um dos estados contemplados. A Justiça Federal de Brasília, no entanto, ordenou a suspensão da compra, alegando custo elevado. O projeto foi engavetado.

Para tentar contornar as falhas, o coronel Francisco Duarte informou que a Seres está elaborando um projeto para instalar bloqueadores de sinal de celular nas maiores unidades prisionais do estado. ´Estamos levantando dados, custos, tecnologia. Vamos fechar esse levantamento para enviar ao governo. Não estamos parados. Mas não tenho um prazo`, assegurou o coronel, que assumiu a superintendência há 18 dias e que tem esse problema como um dos principais desafios de sua gestão. Ele assegurou que o reforço na segurança chega em maio, quando novos 783 agentes penitenciários começarão a trabalhar.