segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Morre terceiro PM que estava em helicóptero abatido pelo tráfico

Morreu na manhã desta segunda-feira, no Hospital da Aeronáutica, o cabo Izo Gomes Patricio, que estava no helicóptero derrubado por traficantes, sábado, no Morro dos Macacos. Com isso, subiu para três o número de policiais mortos no ataque.

A ordem para os ataques de quadrilhas rivais no Morro dos Macacos, em Vila Isabel (Zona Norte), no último sábado, teria partido de dentro do presídio federal de Catanduvas, no Paraná, onde estão presos os líderes da facção criminosa Comando Vermelho. As informações são da Polícia Civil.

Ainda de acordo com a polícia, os ataques teriam sido comandados pelo traficante Fabiano Atanásio da Silva, foragido da policia e que atua no Complexo de favelas do Alemão. Além disso, o traficante Alexander Mendes da Silva, o Polegar, pode ter participado da invasão. Ele fugiu recentemente da cadeia, ao conseguir progressão do regime fechado para o aberto.

A invasão do Morro do São João aos Macacos, que começou na madrugada do sábado e envolveu traficantes de outras favelas do Rio, deixou 12 mortos, entre eles dois PMs que estavam em um helicóptero abatido pelos bandidos.

O policiamento nos acessos aos morros dos Macacos, em Vila Isabel, e São João, no Engenho Novo, continua reforçado nesta segunda-feira. De acordo com a Polícia Militar, homens do 3ºBPM (Méier), do 6º BPM (Tijuca), do Batalhão de Choque e do Batalhão de Operações Especiais (Bope) estão nas ruas dos bairros de Vila Isabel e do Engenho Novo e nas avenidas Marechal Rondon e Visconde de Santa Isabel.

Desde sábado, dois mil policiais controlam a entrada e saída das favelas da região. De acordo com a polícia, durante a madrugada e nesta manhã a situação está tranquila nos locais.

O comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), capitão Blaz, comentou nesta segunda-feira a hipótese da Polícia saber sobre a tentativa de quadrilhas rivais tentarem tomar o controle do tráfico do Morro dos Macacos, em Vila Isabel. Segundo o capitão, todas as ações da PM são baseadas em informações do serviço de inteligência da Secretaria de Segurança do Estado do Rio. - Muitas das ações do tráfico deixam de ocorrer por conta da prontidão da corporação, mas, mesmo com a presença nas comunidades, elas acontecem de forma dissimulada - acrescenta Blaz, que também afirma que, de forma alguma, não houve desprezo das informações do setor de inteligência.

Ainda de acordo com o Comandante do Bope, o fato de policiais militares não entrarem nas favelas durante a noite se deve à preocupação com a segurança dos moradores. - Não há o compromisso com a segurança dos moradores daquela comunidade por parte dos traficantes. A corporação tem sempre que aguardar o momento oportuno e sem riscos para a população da comunidade.

Durante o enterro dos três primos, que foram assassinados ao serem confundidos com traficantes quando chegavam em casa, no Morro dos Macacos, o irmão de um deles disse que a própria família teve que retirar os corpos da favela porque a polícia alegou que o local ainda apresentava perigo.

Antropóloga defende a entrada da Polícia Federal

A antropóloga Alba Zaluar, em entrevista na manhã desta segunda-feira à Globo News, defendeu uma nova forma de combate ao crime organizado no país diante da atual realidade. Alba frisou que o fato da ordem de invasão ter saído do presídio de Catanduvas, no Paraná, demonstra que o crime se organizou e precisa ser combatido com uma estratégia nacional. - Dizem que a Olimpíada é do Brasil. O problema da criminalidade também é do Brasil. Esta concentração de presos num único presídio impõe a presença da Polícia Federal - afirmou.

Alba se mostrou surpresa com a utilização de uma metralhadora antiaérea dentro do morro, que derrubou o helicóptero da Polícia Militar. - Isso demonstra que há vontade de mandar uma mensagem ao governo estadual, que tem sido determinado a combater o tráfico. O poder público tem de recuperar o território ocupado da cidade e, por isso, é esperada a reação das pessoas que estão sendo prejudicados em seus negócios - defendeu.

Segundo a antropóloga, a polícia do Rio deve passar da postura reativa para outra pró-ativa, em que intercepta informação e se antecipa a ações como a de sábado, quando o Morro dos Macacos foi invadido por um grupo rival de traficantes. - Isto exige um investimento maior, salários melhores, a fim de que as investigações sejam mais contundentes - concluiu.