sábado, 2 de janeiro de 2010

Pivetes

Raquíticos, feios,
Sujos, maltrapilhos.
Quanta força:
Basta estar,
Basta um gesto, um olhar,
Um andar, uma direção,
E o temor chega, o medo chega.
O medo de suas mãos,
Do que elas carregam
Ou podem carregar:
Um relógio, uma bolsa,
Uma esperança, uma vida.
Vida insegura, vida dura.
Não tão dura quanto a deles:
Sem um afeto, um lar
Ou um pedaço de pão para mastigar,
Para enganar a vida
Que lhes é mais dura.
Cheiram cola, usam droga,
Comem lixo, batem carteiras,
Usam navalhas,
Descolam um cigarro,
Roubam um carro
Para a vida poder enfrentar.
Fogem da polícia,
Pedem por justiça
A uma sociedade
Que os faz se transformar:
Não são crianças,
Não têm mais inocência,
A pureza foi embora,
A realidade agora é outra.
Fica-lhes difícil voltar.
São pivetes, cheira-colas,
Trombadinhas.

Destino certo, forçado,
Traçado, feito por nós
Que os teimamos em marginalizar.
São sementes jogadas fora,
Deixadas ao relento
Para germinar.
Germinar de qualquer forma,
Não ligando para padrões,
Normas,
Ou para a luta popular.
Sentem-se agredidos,
Roubados, injustiçados,
Por quem tem um pão,
Um afeto, um lar.
Sociedade,
Mãe frutífera, mãe hipócrita,
Que lava as mãos
E não quer de seus filhos,
Suas sementes, cuidar.
Mãe injusta,
Riqueza mal dividida,
Que a tantos sabe matar,
Que tantos destinos sabe selar.

Geralda Sales

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