sábado, 26 de novembro de 2011

O circo

Sábado eu assistia “O Circo” (The circus / Charles Chaplin, 1928). “O vagabundo” (este é o “nome” do personagem de Chaplin, em Inglês), mais uma vez fugindo da polícia, vai parar num circo, no qual, após muitas estripulias, consegue ser contratado como “ajudante”. Em sua primeira intervenção profissional, ele entra no picadeiro com duas imensas pilhas de pratos, que, obviamente, se estilhaçam pelo chão. Volta correndo e pega a mesa do mágico, não sem antes ser avisado para ter cuidado com um botão “especial” que, evidentemente, foi acionado no centro do picadeiro, deixando escaparem pombos, coelhos, cartas de baralho e, até, um anão, escondido por debaixo da toalha. Ante toda essa trapalhada, a platéia desaba em gargalhadas.

O dono do circo conversa então com o capataz (gerente, administrador, gestor, manager, líder... ou como quer que se chame hoje em dia) do circo, orientando ao seu assessor, sobre o “vagabundo”: “Mantenha-o ocupado e não o deixe perceber que é a principal atração”.

Que Chaplin era um gênio, ninguém mais contesta. Ele escrevia o roteiro, produzia, atuava, dirigia, montava, escrevia a trilha sonora... dos seus filmes. E ele fazia mais: educava para o trabalho; ou melhor, educava sobre a exploração do mundo capitalista.

Os “donos”, da mesma maneira que denuncia Chaplin, continuam orientando os seus assessores para o mesmo intuito: manter os trabalhadores ocupados e não permitir que esses percebam que são “a atração principal”. Hoje, no entanto, usam outra linguagem: chamam de PRODUTIVIDADE... que no fundo é exatamente a mesma coisa; manter o trabalhador ocupado para que ele não se aperceba da importância de sua atuação no contexto do mundo do trabalho.

Além da linguagem, os donos adaptaram também a assessoria. Seus assessores, agora, são os políticos, que regulamentam jornadas de trabalho alienantes; são os ideólogos do consumo, que nos impelem a duplas ou triplas jornadas, seduzindo-nos com a miragem do conforto fútil e cada vez mais fugaz; é a mídia que nos conduz à “formação continuada” na jornada pós-laboral, “formação” esta que não liberta, mas, nos “prepara” para mais ocupação laboral; e, é claro, os capatazes, administradores, gestores, managers, líderes... ou como quer que se chame hoje em dia. Todos esses empenhados em nos deixar ocupados, para que não saibamos que somos a atração principal.

Sem nós, os trabalhadores, não há trabalho; sem trabalho, não há produção; sem produção não há venda... Sem venda, não há lucro!

A acrobata, por quem Carlitos se apaixona e, que não por acaso, também é filha do dono do circo, avisa ao vagabundo que ELE é a atração principal. Imediatamente em seguida, Carlitos negocia o aumento do seu salário.
É isso que acontece quando “descobrimos” que somos “a atração principal”: reivindicamos para nós, por direito, o lucro do dono. É sobre isso que nos avisa/educa Chaplin.

Cobrindo com a lona do circo todo o mundo do trabalho, nos transformam a todos em Carlitos, donos de circo ou capatazes. Fazendo a si próprio de bela acrobata, diz-nos: “você é a atração principal! Estão te mantendo ocupado para que você não perceba isto.”
Chaplin era um gênio; isto é incontestável.


Por Breno Rocha

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