domingo, 17 de outubro de 2010

Política Externa de Lula e Dilma


"Uma América do Sul unida moverá o tabuleiro de poder no mundo, não em benefício de um ou outro de nossos países, senão em benefício de todos. Juntos seremos mais soberanos".

Ao ler ontem estas palavras na Revista argentina Umbrales de América del Sur me dei conta do estrago e do retrocesso que seria a eleição do candidato tucano para o Brasil, para o sub-continente em termos de política internacional.

Um dos pontos altos desta política externa de Lula foi a negociação pacífica e sensata com os nossos vizinhos, Bolívia, Paraguai e Equador, consolidando para além de uma estabilidade na região, uma agenda positiva de solidariedade, uma busca por soluções conjuntas de infra-estrutura e energética. A postura equilibrada da nossa Chancelaria, deu o exemplo de que para combater as assimetrias, para consolidar um processo de cooperação regional entre países, quem pode mais deve arcar com os maiores custos. Não se faz integração sem reciprocidade.

Ao negarmos a adesão à ALCA, soubemos construir uma alternativa estratégica que é a UNASUL, que já tem dado frutos. Merece atenção também a criação de uma Universidade da Integração Latino-Americana, a UNILA, uma proposta arrojada para consolidar uma formação intelectual superior com perspectiva latino-americana, contando com estudantes e professores de todo o continente.

Outro ponto alto foi o redirecionamento de nossa política para países emergentes e periféricos com os quais o Brasil mantinha muito pouca relação comercial ou diplomática. Pouco a pouco vimos o presidente Lula e o Brasil aparecerem com vigor no conturbado cenário internacional, sendo ouvido e respeitado. Esta política não se sustentou apenas em retórica diplomática, mas em ações afirmativas, de perdão de dívidas para países em dificuldades, por manter acesa a discussão sobre as desigualdades e a pobreza em escala mundial. O Brasil ganhou respeito de estados e governos em todo o mundo e consolidou, com a Índia, uma liderança no G20. Temos hoje uma clara política Sul-Sul, com a Ásia, a África, América Central e Caribe e o Oriente Médio. Tudo isto sem criar arestas com os pólos dominantes do sistema mundial. E esta atitude pacifista, cooperativa, buscando mudança para melhor em todo o mundo, projetou definitivamente o nosso País no contexto internacional

Do ponto de vista do Itamaraty, foram muitas as contratações por concurso, de jovens diplomatas para dar sustentação ao arrojo desta nova política.

É digna de menção a polêmica atuação no conflito internacional iraniano. Uniu-se à Turquia para dialogar com o Irã e buscar uma saída pacífica para a ameaça de nova guerra que se fazia no momento que seria desastrosa para o mundo. Sabemos o que foi a Guerra do Iraque e os custos em vida humana e destruição de um país provocado pela arrogância e mão-de-ferro da política de George Bush.

Finalmente, dizer que em termos comerciais, o País hoje já negocia mais com a América Latina - acima de 20% de nossas exportações, do que com os Estados Unidos, 11%, com quem tínhamos uma relação subordinada de oligopsônio. Com relação à África, somados os países daquele sofrido continente, já representa a 4ª posição entre os nossos parceiros comerciais. Não se pode afirmar que se trata de retórica. São fatos concretos, estabelecidos com muito diálogo, respeito ao outro e uma agenda proativa de solidariedade internacional. A nossa Política Externa tem dado demonstrações inequívocas de que o mundo precisa mudar, precisa desarmar e que a humanidade contemporânea necessita urgentemente de uma nova ética, de menos intransigência, de mais cooperação e de coalizões, sob o risco de aprofundarmos os já graves problemas e conflitos internacionais, para só mencionar os graves desafios ambientais.

Por tudo isto, me dá calafrios e indignação pensar que o Brasil possa jogar tudo isto por terra, para alguém que representa, de partida, o repúdio ao Mercosul, o repúdio a integração sul-america, sob a falsa alegação de que é melhor nos aliarmos aos ricos e poderosos.

Somos hoje um País diferente em termos de política internacional. Ainda há muito a fazer, mas as premissas estão traçadas e têm recebido aprovação internacional com grande unanimidade. A futura presidente do País, Dilma Roussef , saberá dar continuidade a todos estes avanços, pois a semeadura foi bem feita e agora é o momento da manutenção do que foi bem construído, do aperfeiçoamento. O Brasil não mais será um país subordinado.

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