quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Alguns motivos para apoiar a desmilitarização da Polícia Militar no Brasil

A desmilitarização da Polícia Militar no Brasil é uma das recomendações feitas pela Comissão Nacional da Verdade em seu relatório final apresentado nesta quarta-feira, 10.  O texto abaixo foi originalmente publicado em 19 de fevereiro de 2014.
Ei-lo:
A Polícia Militar brasileira mata, em média, cinco pessoas por dia. Dados divulgados no Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que, em 2012, 1.890 brasileiros foram assassinados por policiais, sendo 351 do total em São Paulo. Esse número representa 20% dos homicídios que a cidade registrou naquele ano.
Por outro lado, cerca de 11 policiais foram mortos em serviço em 2012 e outros 100 foram executados enquanto estavam de folga. Segundo as autoridades, as execuções foram ordenadas por organizações criminosas.
Policiais têm três vezes mais chances de serem assassinados do que os demais brasileiros. Em São Paulo, policiais militares recebem, em média, um salário anual de US$ 15,248 (cerca de R$ 36,6 mil). O valor inclui benefícios e auxílio periculosidade. Pela lei, eles deveriam trabalhar 42 horas semanais, revezando-se em turnos de 12 horas. Mas isso é só na teoria, pois muitos reclamam de que sua jornada de trabalho é frequentemente estendida e não têm tempo para se alimentar.
Para completar o orçamento, muitos policiais recorrem a um segundo emprego, os famosos “bicos”. Alguns trabalham como segurança particular (o que é ilegal), outros fazem parte do programa Atividade Delegada, onde ganham uma renda extra para patrulhar as ruas durante as folgas.
A Polícia Militar não faz parte das Forças Armadas, mas trabalha com os mesmos princípios de hierarquia e disciplina. Eles são proibidos de entrar em greve e organizar sindicatos. Eles também são proibidos de expressar publicamente opiniões políticas. No ano passado, oito policiais militares do Ceará foram afastados por participar de um encontro político, e três foram presos por terem se reunido para discutir a desmilitarização da polícia.
Além das péssimas condições de trabalho, cerca de 70% da população brasileira não confia na Polícia Militar. Em outras palavras, o trabalho dos policiais militares não é reconhecido pela sociedade.
A mídia costuma dar mais ênfase à violência policial do que à violência sofrida pelos policiais. Policiais assassinados não ganham destaque nos noticiários. Mas a responsabilidade de enfrentar organizações criminosas fica inteiramente ao encargo deles.
A impunidade e a tolerância das instituições judiciárias é a principal reclamação dos policiais, acostumados a prender repetidas vezes os mesmos infratores. Alguns acreditam que essa impunidade é o embrião que deu origem à formação de milícias e ao aumento dos autos de resistência.
Há dois anos a ONU recomendou o fim da Polícia Militar brasileira. Outras organizações também defendem a medida, criticando o abuso da força e a tortura de pessoas detidas.
Tal medida beneficiaria principalmente os policiais militares, que seriam libertados das amarras da humilhante conduta militar, que impõe uma mentalidade de guerra. Crimes cometidos por policiais passariam a ser julgados pela justiça civil.
A desmilitarização da polícia é um importante passo para construir uma força policial legítima onde os agentes sejam treinados para serem companheiros da população civil, e não seus inimigos.
Fonte-opiniao


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