Museu do Homem do Nordeste mais uma vez transpôs os muros. Com fotos e banners o museu mudou simbolicamente de endereço. Buscando alcançar espaços considerados de exclusão social e cultural, o projeto Museu Múltiplo chega a Colônia Penal Feminina do Recife. Para elas hoje foi um dia de muita euforia e expectativa. Com direito a desfile de moda e exposição das fotos, resultado do curso de fotografia ministrado pela fotógrafa carioca Kita Pedrosa, o evento foi muito feliz na tentativa e na ação de promover a ressocialização por meio da arte e da cultura.
Segundo Eriston Carline, agente penitenciário, o projeto só veio a acrescentar, principalmente no trabalho que eles realizam para acabar com a divisão criada pelas próprias detentas, onde parte do pavilhão é chamado de favela, e a outra parte de Boa Viagem. Atualmente a Colônia penal passa por uma reforma nas celas, para que todas tenham a mesma estrutura. “Trabalhamos para não ter privilégio. Aqui todo mundo tem que ser tratado igualmente. Quem trabalha fica separado numa cela, apenas por questão de segurança dos objetos e dinheiro que elas recebem. Projetos como esse elevam a auto-estima e incentivam a sonharem com um futuro melhor.”
Gabriela Aidar, coordenadora do programa de educação e inclusão da pinacoteca de São Paulo, esteve no evento. “Eu acho extraordinário essa iniciativa do museu. Conheci o projeto no fórum nacional de museus e parabenizo a todos pela iniciativa e pela coragem. Eu não poderia deixar de vim aqui hoje. É uma iniciativa muito importante para museologia brasileira e para o público que não tem acesso aos museus. Além é claro do diálogo, que o museu passa a estabelecer com a sociedade, nesse caso com as reeducandas. É uma satisfação muito grande poder participar desse momento.” De passagem pelo Recife, ela participará de uma oficina no Museu do Homem do Nordeste voltada para profissionais de museus, professores e arte-educadores.
Para Alana Couto, chefe executiva da Colônia Penal do Recife, o resultado do projeto foi recebido com muita surpresa. “No início quando trouxeram a proposta, eu achei que elas não teriam interesse. Nos reunimos e passamos pra elas. Depois, cinco reeducandas foram conhecer pessoalmente o museu, e a partir daí elas acharam muito interessante a idéia do curso de fotografia. Com certeza, mais de 90% delas nunca tiveram acesso a um museu. Me surpreendi com a aceitação e receptividade delas. Nessas duas ultimas semanas ficaram muito anciosas querendo realizar um bom trabalho, tanto nas fotos, quanto nos desfiles.”
Para o Coronel Edvaldo Vitório, superintendente de capacitação e ressocializaçao, não há como calcular o efeito desse trabalho na vida das pessoas, privadas de liberdade. “Educação e cultura são a base do desenvolvimento de qualquer pessoa e elas não tiveram acesso a isso. Muitos presos nunca tiveram acesso a educação, a saúde, e a moradia. Na verdade nunca foram socializados quando estavam em liberdade, e é essa falta de inclusão que colabora para termos um índice tão alto de criminalidade. A maioria das presas estão detidas por tráfico. Por não ter qualificação profissional não conseguem emprego e acabam indo pro mundo do crime. Toda a sociedade é responsável pela ressocialização. Criminalidade não é só assunto da polícia, e a Fundaj traz esse momento de reflexão. Projetos como esse devem ser estendidos a outras unidades prisionais.”
Para Vânia Brayner, coordenadora geral do Museu do Homem do Nordeste, esse é o ponto alto do projeto. “Para nós é um orgulho inaugurar mais uma estação do museu múltiplo. Iremos permanecer aqui por mais dois meses, realizando oficinas sobre patrimônio e cultura. O nosso paradigma é a museologia social, e o nosso papel é a inclusão social e cultural. Museu não é só o lugar de ver o passado, é lugar de escrever o futuro. Aqui, nós encontramos o nordeste por trás das grades e aprendemos muita coisa com elas. Sem a interação das reeducandas, nada disso seria possível. As mulheres do bom pastor sonham com um futuro melhor, e o sonho é a capacidade humana que nos diferencia dos outros seres.”
Representando as reeducandas, Maria Adriana fez parte da mesa e disse que pra ela o curso foi uma experiência inesquecível.“Eu descobri que posso ir mais além, correr atrás dos meus sonhos, me profissionalizar na área da gastronomia e ser feliz.”
Juntamente com as reeducandas, a estilista Eliete Corte Maia, voluntariamente produziu uma coleção de roupas de malha e apresentou vestidos de noiva confeccionados em seu ateliê. Muito emocionada, a estilista agradeceu o convite para a participação do evento e presenteou todas as roupas desfiladas, inclusive os vestidos de noiva.
Bom dia
ResponderExcluirgostaria dse parabenizar pela materia .
eu trabalhei muitos anos na casa de detenção do carandiru e durante o tempo em que trabalhei la consegui juntar um grande acervo com mais de 10000 fotos
muitas horas em video centenas de objetos documetos maquetes alem de algumas materias e revista.
alem de um documnetario editado por uma tv americana e exibido em toda europa e aqui no Brasil não (segue anexo) e gostaria de conseguir realizar exposições em escolas faculdades e afins com intenção de concientizar jovens e adolescentes e tambem saciar a curiosidade popular e mostrar como era o dia a dia dentro do maior presidio do mundo em população carceraria do mundo
alem de muitas histórias e uma tirinha em uma revista tão popular ajudaria muito a divulgação do acervo que é o maior acervo particular sobre o presidio
qualquer interesse entre em contato
vamos fazer uma exposição ai
obrigado
Mazotto
segue link do documentário :
http://www.vice.com/vice-news/carandiru-s-bloody-memories
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Mazotto Lima
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