Em séries e filmes sobre investigação criminal vemos policiais pegando amostras de DNA nos lugares mais impróprios. Na vida real, as fontes de material genético podem ir desde coleta de sangue até suor, saliva, lágrimas, urina, vômito, fezes ou cera de ouvido.
Nem todas essas substâncias do corpo fornecem amostras ideais, já que elas podem trazer consigo fragmentos de tecido humano e, este sim, contém o material genético em suas células - com exceção das hemácias, que não possuem núcleo com DNA.
A roupa suja, por exemplo, pode indicar resquícios de sangue, suor ou sêmen; o apoio de nariz ou as hastes de óculos podem trazer células da pele ou suor; e uma bala que atravessa um corpo pode carregar tecido.
O sêmen é um caso especial, exigindo a separação do DNA encontrado no esperma de outro DNA que pode ter vindo do suspeito ou da vítima.
Os laboratórios usam um processo chamado de extração diferencial, no qual químicos são usados para quebrar células não relacionadas ao esperma. Depois, a amostra é girada numa centrífuga e as células intactas do esperma são removidas.
DNA mitocondrial
Mas nem todas as amostras são aceitas por laboratórios. Com técnicas modernas até algumas células podem fornecer um perfil de DNA e as mitocôndrias ganham um papel de destaque.
No Brasil, existem 19 laboratórios públicos habilitados para a realização de análises de DNA. Mas ainda há problemas quanto ao uso, em casos forenses, das análises do material genético colhido das mitocôndrias.
Assim como o núcleo da célula, essas estruturas também contêm DNA, chamado de mitocondrial. Este DNA só é transmitido de mão para filhos, por isso não serve para identificar paternidade, mas pode ser fundamental para encontrar um criminoso.
“Esta análise é essencial em casos onde as amostras colhidas foram extraídas de fios de cabelo, ou estavam muito danificadas”, explica Greiciane Gaburro Paneto, farmacêutica-bioquímica que se pós-graduou em Biociências e Biotecnologia aplicadas à Farmácia, na Unesp de Araraquara.
As mitocôndrias são estruturas que ficam espalhadas dentro das células e variam de quantidade dependendo do tipo de tecido. Além disso, elas abrigam pouco material genético em comparação com o núcleo: 16.569 pares de bases nitrogenadas frente a 3 bilhões de pares do núcleo.
Apesar de ser pouco material genético presente na mitocôndria, ele possui características que facilitam o trabalho da genética forense. Uma delas é sua “durabilidade”. O DNA que fica armazenado no núcleo da célula começa a se degradar poucas horas após a morte do indivíduo, o que dificulta a extração de amostras em quantidade suficiente para serem analisadas. Já o DNA mitocondrial pode manter-se mais bem conservado por décadas, resistindo às circunstâncias mais adversas.
Outro fator importante é que o DNA do núcleo é importante para a síntese das proteínas necessárias para o organismo, por isso apresenta pouca mutação. As bases localizadas no interior das mitocôndrias, por sua vez, têm uma chance dez vezes maior de experimentarem mutações.
Três regiões do DNA mitocondrial têm uma taxa maior de mutações, e é nestas partes que os cientistas buscam os elementos que vão permitir comparar uma amostra colhida na cena de um crime com o material genético de um suspeito. Além disso, algumas células podem ter mutação mitocondrial e outras não, o que é chamado de heteroplasmia.
Assim, na hora de fazer a análise forense, o investigador pode procurar em um banco de dados quais as mutações mais e menos comuns e encontrar um criminoso por similaridades nas mutações mais raras.
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